Revista época 04/06/2010 19:11
Um espião em seu computador
A
operadora Oi adotou um programa que rastreia tudo o que seus clientes
de banda larga fazem na internet. Por que isso é uma ameaça para nós
Bruno Ferrari e Camila Guimarães
Existe
um programa de computador que registra tudo o que você faz na internet.
Acionado, ele sabe que você entrou no Orkut, digitou o nome de uma
ex-namorada no campo de busca, depois visitou o perfil dos amigos dela.
Também viu que entrou num site de vendas e procurou uma nova
torradeira. Anotou as opções que você comparou. Acompanhou sua visita
ao site do banco para consultar o saldo. Seguiu seus passos no site de
e-mail enquanto você abria cada mensagem. Viu que você entrou no
Facebook. E quando você clicou num vídeo divertido que alguém
recomendou. Esse programa anota quanto tempo você gastou em cada uma
dessas atividades. E transmite toda essa informação a uma empresa que
analisa seu comportamento e o classifica de acordo com algum rótulo.
Soa amedrontador? Pois é real. Esse tipo de invasão de privacidade
ameaça os internautas brasileiros.
A
sequência acima, de rastreamento da navegação na internet, descreve o
serviço oferecido pela empresa inglesa Phorm. Ela está chegando ao
Brasil. Seu principal cliente aqui é o provedor de internet Velox,
serviço oferecido no Rio de Janeiro pela operadora de telecomunicações
Oi. A Oi está testando aqui uma versão do programa da Phorm chamada
Navegador. É uma tecnologia que está longe de ser aceita no mundo.
Desde 2002, quando foi criada pela Phorm, ela tem gerado controvérsia
internacional e levantado preocupações em grupos ligados à defesa dos
direitos civis na internet. Essas resistências dificultaram sua adoção
nos Estados Unidos e na Europa. Há o temor de que as informações
pessoais sejam usadas de forma indevida. É evidente que uma empresa
telefônica não pode grampear suas linhas. Por que, afinal, seu provedor
de internet teria direito de saber o que você faz na rede? Um programa
espião ameaça nossa liberdade?
Sua
chegada foi discreta no Brasil. A primeira rodada de testes com o
Navegador foi anunciada em março pela Oi, dona do provedor de banda
larga Velox e do portal iG. De acordo com a Oi, ele começou a ser
oferecido a internautas do Rio de Janeiro. A intenção da Oi é expandir
aos usuários de todo o Estado até o final de 2010. O Navegador é um
rastreador remoto (não fica instalado na máquina do usuário) dos passos
que um internauta dá na rede. No início dos testes, Oi e Phorm
anunciaram uma parceria com os portais Terra, UOL e Estadão. Procurada
por ÉPOCA, a assessoria do Grupo Estado afirmou que “a parceria nunca
existiu e o nome da empresa foi usado à revelia”. A Oi confirmou a
parceria com UOL e Terra.
O
objetivo do Navegador é detectar as preferências de quem navega na
rede. A promessa da Oi é oferecer ao usuário uma navegação
personalizada. Quem é torcedor do Flamengo passaria a ter
automaticamente na tela do computador mais informações sobre o time.
“Uma página será apresentada aos clientes para que decidam se desejam
ativar a ferramenta”, diz a Oi. “A escolha e decisão é do cliente.” Oi
e Phorm também afirmam que a tecnologia do rastreador traça o perfil
dos usuários sem identificá-los. Isso seria possível graças a um
recurso técnico. Assim que um internauta se conecta à web,
imediatamente o Navegador associa a ele um número aleatório. É esse
número interno – e não um nome público ou um endereço fixo na internet
(conhecido tecnicamente como IP) – que a Phorm usa no rastreamento.
“Nenhum dado pessoal, histórico de navegação ou endereço IP é
armazenado pela ferramenta”, informou a Oi. “O sistema não rastreia
e-mails, salas de bate-papo e páginas seguras, como sites de banco.”
O
programa da Phorm também permite que o provedor de acesso mostre, a
cada usuário, anúncios específicos, de acordo com seus interesses
pessoais. Sites que tenham acordo com o provedor poderiam vender
anúncios prometendo veiculá-los a internautas cujo perfil fosse mais
interessante ao anunciante. Tal sistema é apresentado como um modo de
aumentar a receita de provedores e sites de conteúdo. Só que, além de
invasivo, ele pode representar uma concentração de poder nas mãos de
uma empresa cuja missão deveria ser prover acesso de forma indistinta –
sem discriminar o conteúdo ou publicidade que trafega em sua rede. Numa
comparação com outro setor, a situação seria equivalente a uma empresa
de eletricidade receber dinheiro cada vez que você ligasse uma
determinada marca de eletrodoméstico na tomada.
Tamanho poder nas mãos da Phorm e da Oi pode representar uma ameaça à concorrência no mercado de publicidade on-line. A Oi argumenta que, como o iG detém em torno de 5% desse mercado, essa ameaça inexiste. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deverá julgar nas próximas semanas a parceria entre Oi e Phorm. Até agora, a Secretaria de Direito Econômico (SDE) e a Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE) deram parecer favorável à Oi. O caso estava na pauta do dia 5 de maio, mas o Cade decidiu pedir mais informações à Oi. Um novo julgamento ainda não foi marcado.
Além das questões comerciais, o maior estigma em torno dos programas de rastreamento da Phorm é a ameaça à privacidade. O Brasil está recebendo um programa espião rejeitado em outros países. O histórico da Phorm é sombrio. Ela foi fundada em 2002, com o nome de 121Media. Especializou-se na criação de programas para publicidade on-line. Seu primeiro produto foi classificado como um spyware, nome técnico dos programas espiões que se instalam na máquina do usuário sem consentimento e enviam informações a terceiros. No início da década passada, esses programas eram tão populares quanto difíceis de apagar. A Phorm recebeu notificações de órgãos de segurança de países como Estados Unidos, Canadá e Inglaterra pedindo que interrompesse as vendas por ferir a segurança e a privacidade do internauta.
A Phorm então desenvolveu o Webwise, programa que diz tratar o internauta de forma anônima. Sites como Google, Amazon e Wikipédia bloquearam o Webwise em suas páginas por desconfiança. Personalidades como Tim Berners-Lee, criador da web, criticaram a falta de transparência (leia mais no quadro ao lado). O caso mais delicado envolveu a British Telecom (BT), operadora estatal de banda larga da Inglaterra, acusada de infringir as leis de privacidade da União Europeia por fazer, entre 2006 e 2007, testes do programa com 18 mil clientes – sem consultá-los. O mal-estar foi tamanho que a BT teve de abandonar o projeto em 2008. “A ferramenta da Oi tem uma proposta de valor e modelo de implementação totalmente diferente do Reino Unido”, informou a Oi.
A Phorm não é a única empresa que rastreia hábitos do internauta para alocar publicidade. Grandes sites, como o Google, tentam adivinhar o gosto do usuário a partir do que ele busca ou digita. O Facebook também enfrenta questionamentos sobre sua política de privacidade. Vários internautas têm abandonado o Facebook por causa disso. Mas o rastreamento da Phorm dá um passo além. Por dois motivos. Primeiro, os outros sites avaliam seu perfil, mas sua vida digital não fica toda guardada neles. Quando a Phorm espiona, ela rastreia tudo o que você faz. Segundo motivo, as empresas de busca e redes sociais precisam do retorno publicitário para manter seus serviços gratuitos. Os provedores que usam o programa da Phorm já são pagos por você – e pelo acesso, não por conteúdo.
O grupo AntiPhorm, uma ONG de defesa de direitos civis na internet, lançou programas para bloquear o rastreador. Um deles, o Dephormation, funciona simulando atividade na internet de seu computador. Com isso, os dados que a Phorm rastreia ficam poluídos com informação falsa e perdem valor. O navegador Firefox oferece uma ferramenta chamada Firephorm, que impede a Phorm de anotar os sites que você visita. As próprias empresas que anunciam podem se recusar a adotar o sistema da Phorm por julgar importante manter a privacidade de seus clientes e por desconfiar que esses dados possam ser usados por concorrentes. “Alguns podem avaliar que explorá-los configura espionagem industrial”, diz Jim Killock, da Open Rights Group. Isso explica, em parte, a reação negativa da Amazon.
O Brasil pode criar barreiras contra esse tipo de insegurança digital com o novo marco regulatório da internet, lei que esteve em consulta pública nos últimos meses e deverá seguir para o Congresso no final do semestre. Até agora, o texto não aborda especificamente programas de rastreamento, como o Webwise ou o Navegador, da Phorm. Mas dá uma indicação de que isso pode ser considerado ilegal. Num dos parágrafos, afirma que o provedor “fica impedido de monitorar, filtrar, analisar ou fiscalizar os conteúdos dos pacotes de dados, salvo para administração técnica de tráfego”. Se essa norma for aperfeiçoada, os brasileiros podem ficar mais protegidos contra as tentativas de espionagem de sua vida privada.
fonte: epoca
12 COMENTÁRIOS:
AH
TUDO DE INTERNET A GENTE TA SUJEITO!
sou contra
Muito bom cara! É realmente um caso a pensar!
Aproveita e visite também meu blog!
www.meucaonaochupamanga.blogspot.com
De sua opniao e se gostar siga!!!
Um abraço e sucesso!!
como tá rolando muito crime pela net pode ser uma coisa que ajude
mas tem seu lado ruim né
http://osbotequeiros.blogspot.com/
Uma faca de dois gumes, pode diminuir bastante os crimes virtuais, mas em compensação, vamos perder nossa privacidade.
pois é, mas isso vai acontecer mesmo, pelo rumo que a internet tomou, daqui mais uns anos nao duvido de nada, por um lado é otimo, pela segurança e prevenção de crimes, mas como estamos no brasil, terra sem lei, vai ser uma merda :s
Incrivel! Mas, como tudo na vida, até essa invasão de privacidade tem seus pontos positivos e negativos. Talvez para nos proteger, talvez para ter acesso a informações privilegiadas a serem usadas no marketing da empresa... Resta-nos, usuarios de banda larga, jugar, avaliar e concluir nossa posição quanto a proposta de Oi.
--
www.diiegopauliino.blogspot.com
nunca fui com a cara da velox, mas como disse o brilhante macaco pipi: qualquer coisa é exposição quando se trata de internet.
http://anpulheta.blogspot.com
Voce acha que a Google já nao faz isso? veja bem, eles tem o gtalk, o orkut, o blogspot, o fotolog, rastreador google, e ainda olham seus emails no gmail!
ver o que eu faço ? ahaam, senta lá ! muita falta de privacidade :o e colega, se o google faz isso já eu me suicido virtualmente. --' continuem revolucionando a tecnologia, mas cada um no seu quadrado. :B
é cada vez mais a falta de privacidade ta ocorrendo, mas por enquanto vi pouco ponto positivo nisso. E as coisas começa pensando m dinheiro depois aparece outros interesses.
Está cada vez mais precisamosais difícil ter privacidade.
Postar um comentário
Comenta, Não precisa concordar: